Castelo de Miraz

Construído por um dos reis Caspian, aqui reinaram os famosos reis telmarinos, inclusive o Rei Miraz, o qual deu o nome ao castelo. O castelo passou a ser governado por Sílas, o bisneto de Miraz que é tão cruel quanto o bisavô. Vai querer pedir algo ao seu rei?! Pois trate de ter cuidado com o que irá dizer a ele.

A morena alta finalmente chegara ao local na esperança de poder convencer o rei que ali vivia a se juntar a ela. Já era noite, portanto, ninguém andava pelos arredores de Telmar, provavelmente estavam dormindo. Fazia bastante frio naquela noite, mas mal a sintia, pois usava um enorme casaco de pele de urso. Entrou no reino com certa facilidade, já que despistara com seu assistente alguns guardas. Ísis era tão fria quanto aquela noite, e mal podia esperar pelo encontro com Sílas.
Quando finalmente aproximara-se do Castelo de Miraz, entrou por uma passagem que quase ninguém conhecia. Em poucos minutos estava ali, aguardando pelo rei daquelas terras.

'O rei andava em frente ao fogo, parecia irado com algo até então velado.'
'No aposento que se encontrava um súdito o observava, contrito e submisso.'
'O longo casaco de pele vermelha que Sílas usava o tornava ainda maior a cada movimento de rodopio que dava em frente ao fogo...'
'Os longos cabelos estavam soltos, sinal de que algo o havia despertado.'

Ainda pela passagem secreta, Ísis chegara ao local combinado. Não chegaria tão cedo se Sílas não facilitasse para ela com tochas pela tal passagem. Adentrara no local com inquietidão, não era de ter papas na língua.
- Caríssimo, precisa fazer algumas reformas neste seu castelo. Quase que não encontro esta maldita sala.
Sentou-se em uma das poltronas do local, como se nada tivesse acontecido. Tirou um mapa de dentro de suas vestes. Era um mapa muito antigo, porém muito importante.
- Os calormanos pediram ajuda para vocês também, Sílas?- Sem alterar o tom de voz.

'A fúria aparente de Sílas só fazia inflamar, apesar da feição cansada, o homem estava disposto, ao caminhar parecia rugir, quase bufava.'
'Avançando em direção à mulher que entrara tomou-lhe o mapa das mãos.'

-Ótimo então! Não o use mais!
'Assim sendo, ele o joga no fogo.'

-Calormanos...não quero nem saber deles, se já não bastasse nosso ato de caridade pela aquela raça...alías, hoje pouco quero saber de negócios!
'O homem abaixado ao canto da sala, nesse momento, é brutalmente escurraçado por Sílas, e nem dando dois passos precisou para chutá-lo, gritando e bradando palavras no dialeto local.'

'Então o grande..e..grotesto homem senta-se numa poltrona alta e forrada em coutro também vermelho.
As sombras do fogo dançavam em seu rosto...'

-Diga...rainha...pretendo voltar antes do amanhecer para minha cama....

Ísis permanecia intragável, apenas assentia com tudo o que o telmarino dizia. Mesmo após o mapa ser arrancado de suas mãos pelo mesmo, manteve sua postura, e por mais raiva que estivesse naquele momento, não demonstraria-a. Levantou-se calmamente da poltrona observando como o local era imundo e mal iluminado. Não é a toa que já foi casa de pirata. Sua mão longa e fina percorreu o rosto do antigo capitão dos mares até que de repente, a mulher puxou-o pelo colarinho com tal força que o ruivo poderia até ficar sem ar.

- Acha mesmo que os telmarinos estão em hora de ficarem analisando ou não minhas propostas ou mapas raros? Pois se acha está muito enganado, Cannore. Repito o que lhe mandei por carta semana retrasada, os nossos países estão ameaçados. Nárnia e aquele leão... todos os nárnianos vão querer se voltar contra nós.

'As mãos rudes, ásperas e grande do rei pirata se puseram sobre os pulsos da rainha.
O ruivo, inflamado de sua fúria não se conteria.'

-Não me toque, rainha!
'Com força bruta e movimento violente Sílas soltou-se das mãos da mulher.'

-Eu sei as condições que infrentamos, talvez melhor que vocês...embora não pareça...
'Sílas gesticulava com os braços abertos, e andando pelo quarto após levantar-se.'
Eu sempre estou na frente de vocês...

-E agora! Se quiser discutir algo realmente importante: FALE!
'O tempramento do homem era insuportável, era como andar por um campo minado...
mas mesmo que não se pisasse em mina alguma, ela explodia...várias vezes.'

- Cannore, a sua rainha anda deixando-o desse jeito tão... descontrolado?! - Disse de modo sarcástico, como já era de se esperar.- Bem que haviam me dito que ela não era flor que se cheire. Mudou a cabeça do velho capitão que assumiu o trono por ter matado o próprio irmão. É uma estória e tanta a ser contada para seus futuros netos, não? Talvez se transformem iguais a você e queiram matar o próprio e imprestável avô que não se dispõe a salvar suas próprias terras. Anos luz atrás, isso não acontecia aqui em Telmar. É realmente uma pena saber que algo tão grandioso como a glória eterna, e o poder não mais lhe interessam, Cannore.

Virou-se de costas para o capitão e tirou o casaco que usava. Era simplismente impressionante o que Ísis trajava mais um de seus longos vestidos vermelhos, porém desta vez eles não mais chamavam atenção, e sim algo em suas costas. Algo curiosamente pouco visível, mais parecia ser tatuagem do que qualquer outra coisa. Se o rei se aproximasse nada mais veria do que o mesmo mapa que jogara ao fogo.

Calisto despertara de seu sono leve, vozes vindas do salão lhe tocavam os ouvidos. Por cima do robe de seda negra, colocou um sobretudo e organizou as mexas de seu cabelo em gestos tão bem treinados que o ato custou-lhe poucos minutos. Havia uma mulher no salão, e isso não lhe agradava nem um pouco. Foi até a fonte das vozes, notando neste momento que não calçara sapatos. Não demorou a identificar a intrusa, quando sobre ela relanceou os olhos castanho-avermelhados.
- Ora, ora, mas que honra... A Rainha Ísis, em nosso humilde castelo. - disse, a voz aguda e quase irritante em um tom de sarcasmo - O que quer aqui?

-Não é uma questão de falta de interesse, Ísis! -'A voz grave do rei soava alta e rouca.'
-Glória não é o destino de Telmar, e poder...Ora...existem muitas formas de poder!

'O rei se ergue novamente, o casaco de pele se abre...agora podia se ver o que pendia em seu pescoço. Um relicário de ouro com um rubi encrustado, era uma jóia simples e quase ninguém nunca reparava.'

'Quando Calisto entrou no recinto, Sílas estava de costas para ela. Ele virou-se rapidamente, todo movimento dele em sua proporção, perante a Calisto, era monstruoso.'

-Minha rainha -'disse em tom mais moderado, havia quase uma adoração dissimulada na voz' - Já está muito tarde...O que faz acordada?

'O fogo da lareira diminuia, os ventos frios oriundos dos mares de Telmar invadiam a sala.
Logo a madrugada terminaria.'

- Sabes como meu sono é leve, querido Sílas. - ela lhe sorriu, acalmada pelo tom ameno do marido. - Eu ouvi uma voz de mulher vindo daqui, e então... - ela fez uma pequena reverência - Perdão, não sei que estava pensando.
Todo o sarcasmo e raiva anteriores desapareceram da voz de Calisto.
Colocou-se ao lado de Sílas então, ficando assim os dois de frente para Ísis.
- Veio pedir para que nos juntássemos a ela? - perguntou ao amado, baixando a voz.

'Quando Calisto foi para a frente, Sílas foi virando-se de lado para acompanhá-la.'
-Sim, minha rainha, falamos sobre os futuros planos de Nárnia e as ameças aos reinos vizinhos, incluindo o nosso...
'Sílas receou por um segundo ao prosseguir...e ficou em silêncio.'

- Ameaça...?
Calisto manteve a expressão impassível, mas seus pensamentos praticamente a afogavam em mares de divagações. Optou então por esperar que Ísis ou o seu marido voltassem a tomar a fala.